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Lin Tzy Li, Gerente Sênior do Health Sensor AI Lab

Na Samsung desde julho de 2017, Lin Tzy Li hoje é Gerente Sênior do Health Sensor AI Lab do Centro de P&D da Samsung no Brasil. A profissional passou por diferentes projetos até chegar à posição de liderança para gerir equipes e projetos relacionados à inteligência artificial.
 

Nessa conversa com a Samsung Newsroom, Lin conta que sua trajetória teve início quando a figura da mulher era uma raridade nas salas de aula voltadas à computação e ciências de dados. Com isso em mente, ela fala sobre as mudanças que ocorreram no mercado de tecnologia desde então e explica como a diversidade contribui para o desenvolvimento de inovações cada vez mais importantes.
 

Newsroom: Fale um pouco sobre sua formação até chegar à Samsung.


Lin: Meu primeiro contato com a tecnologia aconteceu porque uma professora de matemática, que viu potencial em mim, sugeriu um curso na área da computação. Eu me formei em Ciência da Computação depois de cursar colégio técnico em Processamento de Dados na Escola Técnica Federal de São Paulo, que atualmente é o Instituto Federal de São Paulo. Na época do cursinho percebi que queria me especializar e ser pesquisadora, então fui para a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) estudar Ciência da Computação e consegui também uma bolsa de iniciação científica durante a graduação.


Quando finalizei o mestrado aceitei o convite de um amigo para atuar no CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), onde fiquei por cerca de 13 anos. Nesse meio tempo fiz um MBA, e fiz meu doutorado, sendo uma parte dele realizada na Universidade da Virgínia, EUA. Já em 2015, voltei à Unicamp em projetos de pesquisa de pós-doutorado na universidade com empresas de tecnologia, e em 2017 recebi o convite para fazer parte do time de AI da Samsung, que na época estava sendo estruturado.


Newsroom: Como foram seus primeiros contatos com a Samsung?


Lin: Eu entrei em julho de 2017 como pesquisadora de AI e dali em diante o time só aumentou. Esse crescimento foi tão significante que o departamento passou por uma reestruturação a fim de melhor gerenciar as pessoas que já estavam e as que chegavam. Foi quando recebi o convite para fazer parte do time de liderança e também gerir uma parte dessas pessoas. Então plantamos a sementinha para projetos de AI aplicada às funcionalidades de saúde e bem-estar.


Newsroom: Fale sobre sua rotina de trabalho. Como é estar na posição de gerir pessoas?


Lin: Mesmo como gestores, ainda temos uma demanda bastante importante e significativa na parte técnica dos projetos. Existe um trabalho minucioso de revisão e acompanhamento do que está sendo feito. Essa posição de liderança veio para ajudar o time do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento em AI e o meu perfil acabou se encaixando no que a equipe precisava, mas também tive desafios para melhorar algumas soft skills. De toda forma, vejo essa oportunidade como uma forma de colaborar com o time e ajudar outras pessoas a crescerem profissionalmente e desenvolverem suas carreiras.


Lidar com as muitas funções também é um desafio. Isso inclui realizar feedbacks com as pessoas, o que exige estar próxima delas, acompanhar prazos, andamento de projetos, próximos lançamentos, entre outras coisas. Alinhar expectativas também é importante. Precisamos entregar projetos dentro dos prazos, mas sempre garantindo que a equipe esteja bem. É um equilíbrio entre gerir pessoas e projetos definindo as responsabilidades de cada um com clareza, ao mesmo tempo em que selecionamos novas pessoas, já que o time está sempre crescendo.


Newsroom: Falando sobre o crescimento da equipe, como é a participação feminina no seu time? Existem outras mulheres também em posições de liderança?


Lin: Sim. Minha equipe é formada por outras mulheres e outro laboratório do nosso time de AI também têm mulheres na liderança. É curioso pensar que quando cheguei, há quase oito anos, era raro recebermos currículos de mulheres para seleção. Hoje vivemos em uma realidade diferente, embora ainda recebamos poucos currículos de mulheres. Por isso é importante fomentar a participação de figuras femininas em todas as áreas possíveis. Devemos incentivar as meninas, desde pequenas, a aproveitarem as possibilidades de adentrar áreas técnicas e científicas. Esse potencial pode ser visto desde muito jovens e precisa ser estimulado para que elas se interessem em seguir carreira na ciência e na tecnologia.


Do nosso lado, existe um impulso ativo por essa diversidade. Olhamos os currículos com muito cuidado para encontrar posições que essas mulheres possam ocupar em nossos times. Dessa forma conseguimos uma equipe cada vez mais diversa, e não apenas em gênero.


Newsroom: Na sua opinião, qual foi o maior ou mais importante projeto no qual você trabalhou ou tem trabalhado nos últimos tempos? Por quê?


Lin: Eu comecei como líder de projeto relacionado ao sono e foi o nosso primeiro projeto de AI aplicada a saúde e bem-estar executado em nosso Centro de Pesquisa. Na época não tínhamos nenhum projeto de P&D em AI desenvolvido aqui, que tivesse resultado em solução comercializada em produtos da Samsung e esse tinha um grande potencial nesse sentido, com a missão de melhorar funções de sono existentes nos relógios da Samsung. Além disso, era uma meta que o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Samsung no Brasil fosse reconhecido também por contribuições que chegassem a produtos globais da Samsung.


Em 2020, duas soluções foram comercializadas. Elas estavam nos relógios inteligentes da Samsung lançados na época. Trata-se da funcionalidade aprimorada para detecção de estágios do sono e uma nova funcionalidade da área de Fitness, estimação do VO2Max a partir do relógio, que foi totalmente desenvolvida em nosso Centro de Pesquisa no Brasil. Outra funcionalidade de detecção de Apneia do Sono, lançada recentemente, também foi desenvolvida inteiramente aqui pela nossa equipe. É muito interessante como o time do Brasil tem atuado nessa “exportação” de tecnologias para funcionalidades aplicadas em todo o mundo.
 

O projeto do sono foi um dos grandes marcos para nosso time porque foi o primeiro projeto de pesquisa e desenvolvimento de Inteligência Artificial aplicada a saúde e bem-estar do time. Desde então, vieram vários outros projetos de P&D que contribuem ou contribuirão com funcionalidades novas e aprimoradas para o ecossistema de soluções da Samsung.
 

Estamos muito felizes com nossas contribuições e orgulhosos do nosso time, pois estamos trabalhando com pessoas muito competentes e talentosas. Algumas delas estão conosco desde aquela época inicial de formação do time e são referências também nos conhecimentos técnicos. É muito gratificante ver o time avançar e ao mesmo tempo receber novos talentos. As pessoas aprendem umas com as outras e crescem juntas nesse processo. Além disso, é um diferencial trabalhar em projetos que impactam a vida das pessoas. Dá orgulho ver nosso trabalho ganhando o mundo e tendo impacto real no dia a dia dos usuários.
 

Newsroom: Fale mais sobre o papel das mulheres e a importância da diversidade nesses processos de inovação.
 

Lin: Nós somos um time diverso e somos heavy users do que produzimos aqui. E nosso trabalho depende muito dessa diversidade, não apenas de gênero, mas de raças, cores, etnias e culturas. É por isso que a Samsung possui o Health Data Lab em Campinas (SP). O Brasil tem uma população diversa e, quanto mais diversidade temos em informação e dados, mais robusta é a tecnologia que desenvolvemos, de forma que mais pessoas poderão contar com ela. Isso também traz novas perspectivas de como cada pessoa experimenta um dispositivo. A AI aprende conforme os dados que disponibilizamos, por isso precisamos dessa diversidade de perfis.
 

No que diz respeito à participação feminina, faço parte de uma equipe mista, composta também por outras mulheres. Não sou a única mulher em posição de liderança e, quando me tornei gestora, vi outras mulheres também receberem o convite para gerir equipes, assumindo áreas importantes. Estamos muito bem representadas no laboratório de P&D da Samsung no Brasil, de onde saem muitas inovações para o mundo todo.
 

No mercado de modo geral, ainda existe uma diferença na participação da mulher, mas já é diferente de quando comecei. Olhando hoje para um cenário em que mais mulheres estão presentes, é mais fácil se identificar e se sentir pertencente a este espaço por reconhecimento da nossa competência.
 

Newsroom: Como especialista em AI, quais são suas percepções sobre o mercado hoje? Para onde estamos caminhando?
 

Lin: A AI é uma aplicação que precisa ser treinada, de forma a trazer resultados cuidadosos e não tendenciosos. A atenção com a ética também precisa ser aplicada à AI para que ela seja cada vez mais eficiente, justa e segura.
 

É importante lembrar ao usuário que estamos falando de IA em termos de ferramentas. Elas otimizam seu tempo ajudando em diversas tarefas, seja para buscar informação, sumarizar, ou criar rascunhos, mas é importante que haja uma revisão com senso crítico e ajustes dos resultados por parte do usuário. Essa parte final exige um olhar humano também para garantir o uso seguro da AI e dos dados coletados.
 

A privacidade também tem sido uma preocupação crescente para as pessoas. Elas estão cada vez mais familiarizadas com o uso da AI, mas também têm exigido consentimento para participar ativamente do desenvolvimento dessas soluções. Estamos caminhando para um cenário em que a AI derruba barreiras, entre elas as da comunicação. Hoje em dia, um smartphone Galaxy já traduz mais do que textos, tornando possível conversar em outros idiomas por telefone, mensagens e até pessoalmente, ou até criar imagens a partir de esboços, entre muitas outras funções possíveis por meio do nosso Galaxy AI1.
 

Newsroom: Existe alguma tendência em termos de tecnologia e comportamento do consumidor que pode vir a merecer a atenção das empresas no futuro próximo?
 

Lin: Eu considero a polarização um fator que merece atenção. Estamos em um momento no qual as pessoas são bombardeadas por informações e o algoritmo entende seus gostos e preferências para entregar cada vez mais conteúdos segmentados. Isso nos coloca em uma bolha perigosa na qual não vemos e, consequentemente, não aceitamos bem as opiniões diversas. Essa polarização, principalmente nas redes sociais, pode nos tornar cada vez menos flexíveis ao que o outro pensa e tem a dizer, inclusive também na questão de gênero. As iniciativas de diversidade são o caminho pelo qual é possível continuar avançando.
 

Além de trazerem oportunidades justas e a devida equidade para pessoas menos privilegiadas, são fundamentais para o próprio desenvolvimento tecnológico, já que é um processo que, com colaboração, fica ainda mais rico e eficiente por causa de diferentes experiências e visões de cada pessoa pode fomentar ideias e soluções mais criativas. Oferecer condições iguais para homens e mulheres é uma prática que deve ser feita de forma ativa e consciente para mudar esse ciclo de desigualdade.
 

Já em termos de AI, acredito que estamos caminhando também para esse lugar de cuidado e atenção ao uso. Há pouco tempo a inteligência artificial era muito voltada para textos e hoje é uma ferramenta multimídia que, além de responder perguntas textuais, já cria e edita conteúdos em vídeo, áudio e imagens em geral, como pinturas, ilustrações e até fotos bastante realistas. Isso exige muito cuidado e atenção tanto para quem usa, como para as empresas responsáveis por desenvolvê-las.
 

Para conferir outras entrevistas com líderes da Samsung, acompanhe a Newsroom Brasil clicando aqui.

1 Pode ser necessário fazer o login na conta Samsung para usar determinados recursos de IA da Samsung. A Samsung não faz promessas nem garantias referentes à precisão, integridade ou confiabilidade dos resultados fornecidos pelos recursos de IA. A disponibilidade dos recursos da Galaxy AI pode variar dependendo da região/país, versão do sistema operacional/One UI, modelo do dispositivo e operadora de telefonia. A disponibilidade de certas funções varia de acordo com o modelo do dispositivo. O serviço Galaxy AI pode ser limitado para menores de idade em certas regiões com restrições de idade quanto ao uso de IA. Os recursos da Galaxy AI serão disponibilizados gratuitamente até o final de 2025 em dispositivos Samsung Galaxy compatíveis. Termos diferentes podem ser aplicados a recursos de IA fornecidos por terceiros.

Rafael Mota

*Tech/creator do Inteligência Móvel (IM) * Nerd/geek (Pete Mineiro ⛏ da Cavalaria Geek). * r.mota@inteligenciamovel.com.br

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